Jovens e mulheres puxam aumento de evangélicos no país, revela IBGE

Entre 2010 e 2022 foi a religião que mais cresceu na população. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

A pastora Cássia Antunes é uma religiosa que decidiu se dedicar integralmente à caridade. Ela lidera uma igreja evangélica no bairro de São Joaquim, uma localidade de casas simples, onde as ruas ainda não são asfaltadas, no município de Itaboraí, na região metropolitana do Rio de Janeiro.

Antunes ajuda com orações e orientações espirituais casais, famílias com conflitos e qualquer pessoa em um momento difícil. Faz 8 anos que ela entrou para Assembleia de Deus, depois de descaminhos que a levaram à uma depressão e à Igreja Universal do Reino de Deus. Até aquele momento, seguindo a tradição familiar, ela era espírita.

“Muitos falam mal, mas foi na Universal, igreja à qual sou grata, que conheci a palavra de Jesus, por meio de pastores amorosos, lideranças muito boas, tive o apoio que mudou a minha história”, contou.

Como evangélica, a pastora Cássia faz parte de um grupo que representa mais de um quarto da população brasileira, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Segundo os dados do Censo Demográfico 2022, os evangélicos são o grupo religioso que mais cresceu entre 2010 e 2022 na população. Antes, eles representavam 21,6% dos que agora são 26,9% dos brasileiros. O censo incluiu apenas pessoas a partir dos 10 anos de idade.

De acordo com o levantamento, há uma predominância de jovens e mulheres entre os evangélicos. Na faixa entre 10 a 14 anos, 31,6% se declararam evangélicos, em 2022. Esse grupo tem sido bastante atraído para a religião por uma série de estratégias, na análise da professora Christina Vital, do Programa de Pós Graduação e Sociologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), especialista no tema.

“Podemos pensar em vários fatores para essa atração, ao longo dos anos, e que é importante para essa religião. Há desde uma adaptação muito forte das liturgias evangélicas, ou seja, dos cultos que vão se aproximando do interesse juvenil, seja por meio da estética ou a partir das teologias, até a oferta de mecanismos de circulação e de perspectiva de vida”, avalia.

Ela explicou que os jovens são um grupo crítico ao Estado e as igrejas evangélicas “vem oferecendo um caminho, uma expectativa, mesmo que seja apostando no mérito, como forma de alcançar [objetivos] na atual sociedade”.

A pesquisa do IBGE também destacou o atual percentual de mulheres religiosas entre as brasileiras. Embora menor do que o número de mulheres católicas (51%), a proporção de mulheres evangélicas entre o total de fiéis também é alto, 55,4%, maior do que o percentual da participação feminina na população, que é de 51,8% de todos os brasileiros. No espiritismo, elas chegaram a 60,6%.

De acordo com Vital, as mulheres, em geral, aderem mais ao universo religioso.

“Pela questão da formação da comunidade, pela questão da formação de redes de proteção e também pela relação com os níveis de escolaridade”, explicou.

Entre os sem religião, agnósticos e ateístas, há mais homens.

Há outro componente que contribui para o alto percentual de mulheres na igreja evangélica, segundo a professora.

Nilza Valéria é pastora e coordenadora da Frente dos Evangélicos pelo Estado de Direito, uma organização civil presente em 20 estados. Segundo ela, nessa religião é comum ver mulheres em altos cargos.

“As mulheres, e falo como uma mulher negra, inclusive, jornalista, a gente vive em uma sociedade em que a gente tem que se provar o tempo todo para justificar os espaços [de liderança] que ocupamos. Na igreja, isso não acontece. É normal estarmos nesses espaços. Lá eu sou a pastora Nilza, não preciso provar nada. As mulheres de oração são valorizadas nas suas comunidades e o que elas falam é lei”, disse.

Apesar do aumento do número de evangélicos entre os brasileiros, o número surpreendeu e ficou abaixo do esperado.

“As projeções indicavam que teríamos um país de 40% desses religiosos e isso não aconteceu”, disse a professora Christina Vital. O Brasil continua um país católico, fé declarada por 56,7% da população.

A queda da proporção de católicos entre os brasileiros vem sendo observada desde o início desse tipo de pesquisa, em 1972. Em 2010, na pesquisa mais recente, eles eram 65% da população. Atualmente, a maior parte do grupo tem mais de 50 anos de idade, o que indica uma baixa renovação.

No Nordeste e no Sul, os católicos são a maioria, 63,9% e 62,4%, respectivamente. Já no Norte, prevalecem os evangélicos, 36,8%.

“O catolicismo no Nordeste tem uma forte presença, o movimento pentecostal vem do Norte, que reúne os estados com maior população evangélica. O Nordeste, em razão da história de ocupação e da relação de grandes famílias [tradicionais] sempre tiveram uma ligação com o catolicismo”, explicou Vital.

Outro grupo que cresce é de religiosos de matriz afro, praticantes de umbanda e candomblé, além de pessoas que declararam outras religiosidades, como judaísmo, budismo, tradições esotéricas ou várias religiões, que passaram de 2,7% em 2010, para 4%, em 2022.

Os espíritas, como a família da pastora Cássia Antunes, de Itaboraí, têm reduzido a presença na matriz religiosa brasileira e são 1,8%. Em 2010, eram 2,2% da população religiosa.

Fonte: Isabela Vieira – Repórter da Agência Brasil

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